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OPINIÃO: Desconfiança e preocupação

O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) só assume o governo brasileiro em janeiro, mas a fase de transição já traz preocupações para boa parte da população. Apesar de dizer que vai governar para todos, a cada dia diminui a confiança sobre a real capacidade de gestão de B17 e seus aliados. Isso porque as primeiras medidas anunciadas já prejudicam negócios e atrapalham a imagem do país no exterior. A extinção do Ministério do Trabalho caiu como uma bomba no colo dos trabalhadores. Quem vai fiscalizar o setor, fazer estatística, tratar do registro profissional, FGTS e, enfim, combater o trabalho escravo e o desemprego no país?

No trimestre encerrado em setembro, o desemprego atingiu 12,5 milhões de brasileiros, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Aliás, sobrou para o próprio IBGE. Bolsonaro chamou de "farsa" a metodologia do órgão para calcular o desemprego. A escolha do juiz Sérgio Moro para o superministério da Justiça e da Segurança também recebeu críticas, inclusive do Judiciário. Há quem diga que Moro tirou a toga para fazer política. Para a imprensa internacional, Moro 'pavimentou o caminho' para a vitória de Bolsonaro e há 'grandes riscos' na escolha. Na primeira entrevista coletiva, Moro minimizou o ato de corrupção de Onyx Lorenzoni, dizendo que ele "pediu desculpas" pelo caixa 2. Ainda ignorou as investigações contra Paulo Guedes, afirmando que ele é "extremamente correto". Defensor das 10 medidas contra a corrupção, Moro disse que certas ideias do pacote "já não têm razão de ser".

Na área da previdência, o superministro Paulo Guedes quer implantar o regime de capitalização. A medida levou milhares de idosos no Chile ao suicídio, já que somente a metade dos aposentados recebe algum dinheiro na velhice. Até o mercado financeiro vê a proposta com ressalvas. Há, ainda, forte pressão para que os atuais deputados votem logo a Reforma da Previdência proposta por Temer. A imprensa "opositora" também já é alvo do presidente eleito. O jornal Folha de S. Paulo, que revelou a indústria de mensagens bancada por caixa 2 no WhatsApp, foi ameaçado de corte de verba. O acesso de alguns jornalistas a coletivas e eventos foi vetado. Um cinegrafista da TV Globo foi censurado e fichado pela Polícia Federal. Para "a imprensa amiga", Bolsonaro dá privilégios, com aparições seguidas na Band, na Record e no SBT. No quesito das relações exteriores, Paulo Guedes falou que o Mercosul "não era prioridade", isso que o bloco é fundamental para a economia brasileira e as relações no continente. Isso preocupou até países da União Europeia.

Sobrou para a China também, maior parceiro comercial do Brasil. Porém, os chineses alertaram que, se B17 insistir no estilo Trump, a economia brasileira vai sair perdendo. O plano de mudar a embaixada brasileira em Israel para a cidade de Jerusalém, alvo de disputa entre israelenses e palestinos, não foi bem recebido pelos árabes. O Egito adiou uma reunião e 20 empresários voltaram de mãos abanando. O Egito é um dos grandes compradores de carne e frango do Brasil. Só no ano passado, esse comércio rendeu US$ 3,2 bilhões ao país. B17 planejava fundir o Ministério da Agricultura com o do Meio Ambiente. Entretanto, após várias críticas, inclusive de ruralistas, ele voltou atrás. O respeito ao meio ambiente é exigência de muitos investidores estrangeiros no país e a atuação do MMA envolve regulação em energia, indústria e infraestrutura. Por fim, a líder da bancada ruralista no Congresso, Tereza Cristina (DEM-MS), vai comandar o Ministério da Agricultura. É chamada de "A musa do veneno", por defender o uso desmedido de agrotóxicos nas plantações.

Parece incrível, mas já ouvi gente dizendo que vai sentir saudade de Temer. Será?

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